sábado, 27 de abril de 2013

A fé não é um engano!


Papa Francisco Santa Missa de Domingo de Páscoa

A fé não é uma alienação, nem um engano, mas um caminho concreto de beleza e de verdade, traçado por Jesus, para preparar os nossos olhos a ver sem óculos «o rosto maravilhoso de Deus» no lugar definitivo que é preparado para cada um. Na  homilia da missa celebrada na manhã de 26 de Abril na capela da Domus Sanctae Marthae, o Papa Francisco dirigiu um convite a não se deixar arrebatar pelo medo e a levar a vida como uma preparação para ver e ouvir melhor e para amar mais.

Concelebraram, entre outros, o bispo Giorgio Corbellini, presidente do Departamento do Trabalho da Sé Apostólica (Ulsa) e da Comissão Disciplinar da Cúria Romana, e o salesiano Sergio Pellini, director da Tipografia Vaticana Editrice L’Osservatore Romano. Entre os presentes, o conselho de superintendência e os revisores das contas da Tipografia Vaticana, um grupo de agentes do Corpo da Gendarmaria e de funcionários do Ulsa e de L’Osservatore Romano.
O Papa Francisco centrou a homilia no trecho evangélico de são João (14, 1-6): «Não se perturbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, ter-vos-ia porventura dito: “Vou preparar-vos um lugar”? Depois de ir e de vos preparar um lugar, voltarei e arrebatar-vos-ei comigo para que, onde Eu estou, estejais vós também. E vós conheceis o caminho, para irdes aonde Eu vou».
«Estas palavras de Jesus — comentou o Pontífice — são muito bonitas. Num momento de despedida, Jesus fala aos seus discípulos do íntimo do coração. Ele sabe que os seus discípulos estão tristes, porque se dão conta de que a situação não é boa». Eis, então, que Jesus os encoraja e anima, propondo-lhes um horizonte de esperança: «Não se perturbe o vosso coração! E começa a falar assim, como um amigo, também com a atitude de um pastor. Digo: a música destas palavras de Jesus é o comportamento do pastor, como o pastor faz com as suas ovelhas. “Não se perturbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim”».
Pronunciadas estas palavras, segundo a narração evangélica de são João, Jesus — disse o Papa — «começa a falar: do quê? Do céu, da pátria definitiva. “Crede também em mim: eu permaneço fiel”; é como se dissesse isto». E recorrendo à metáfora «da figura do engenheiro, do arquitecto diz-lhes o que fará:  “Vou preparar-vos um lugar, na casa do meu Pai há muitas moradas”. E Jesus vai preparar-nos um lugar».
«Como é — interrogou-se o Papa Francisco — esta preparação? Como acontece? Como é aquele lugar? Que significa preparar um lugar? Alugar um quarto no céu?». Preparar um lugar significa «preparar a nossa possibilidade de regozijar, a nossa possibilidade de ver, de ouvir e de compreender a beleza daquilo que nos espera, daquela pátria para a qual nós caminhamos».
«E toda a vida cristã — prosseguiu o Pontífice — é uma obra de Jesus, do Espírito Santo para nos preparar um lugar, preparar os nossos olhos para podermos ver». «“Mas, Pai, eu vejo bem! Não preciso de óculos!”. Mas trata-se de outra visão. Pensemos em quantos sofrem de catarata e devem operar-se: eles vêem, mas que dizem depois da operação? Nunca pensei que se pudesse ver assim, tão bem, sem óculos!”. Os nossos olhos, os olhos da nossa alma têm necessidade de ser preparados para contemplar o rosto maravilhoso de Jesus». Então, trata-se de «preparar o ouvido para poder ouvir as palavras bonitas. E principalmente preparar o coração: preparar o coração para amar mais».
«No caminho da vida — explicou o Pontífice — o Senhor faz sempre isto: com as provas, as consolações, as tribulações e também as coisas boas. Todo o caminho da vida é uma senda de preparação. Às vezes o Senhor deve fazê-lo à pressa, como fez com o bom ladrão: só tinha poucos minutos para o preparar, e fê-lo. Mas a normalidade da vida é caminhar assim: deixar-se preparar o coração, os olhos, os ouvidos para chegar a esta pátria. Porque aquela é a nossa pátria».
O Papa Francisco alertou a não perder de vista esta dimensão fundamental da nossa vida e do caminho de fé e das objecções de quantos não reconhecem uma perspectiva de eternidade: «“Mas, Pai, fui ter com um filósofo e ele disse-me que todos estes pensamentos são uma alienação, que vivemos alienados, que a vida é está, o concreto, e do outro lado não se sabe o que existe…”. Alguns pensam assim. Mas Jesus diz-nos que não é assim, e recorda-nos: “Crede também em mim. O que te digo é a verdade: não me burlo de ti, não te engano”. Estamos a caminho rumo à pátria, nós filhos da linhagem de Abraão, como diz são Paulo na primeira leitura» (Act 13, 26-33).
«E desde o tempo de Abraão — afirmou o Papa — estamos a caminho, com a promessa da pátria definitiva. Se lermos o capítulo 11 da carta aos Hebreus, encontraremos a bonita figura dos nossos antepassados, dos nossos pais, que percorreram este caminho rumo à pátria, e saudaram-na de longe. Preparar-se para o céu é começar a saudá-lo de longe». E «isto não é alienação: esta é a verdade, isto significa deixar que Jesus prepare o nosso coração, os nossos olhos para aquela beleza tão grande. É o caminho da beleza. E também o caminho do regresso à pátria».
O Papa concluiu a homilia, formulando votos a fim de «que o Senhor nos conceda esta esperança forte» e «nos dê também a coragem de saudar a pátria de longe». Finalmente, que Ele «nos conceda a humildade de nos deixarmos preparar, ou seja, de deixar que o Senhor prepare a morada, a morada definitiva no nosso coração, nos nossos olhos e nos nossos ouvidos».

Fonte: L'Osservatore Romano

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